Pedro Cardoso apoia condenação de Leo Lins e critica stand-up
Ator afirmou que o stand-up virou espaço para discursos de ódio disfarçados de humor e defendeu criminalização de piadas racistas
atualizado
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O ator Pedro Cardoso se posicionou publicamente sobre a recente condenação do humorista Leo Lins, ex-integrante do SBT, a oito anos de prisão.
Para o intérprete de Agostinho no seriado A Grande Família (2001–2014), parte do humor feito atualmente em palcos de stand-up no Brasil serve como disfarce para discursos de ódio e posturas autoritárias.
Criticou espetáculos de stand-up
“Eu tenho dito, faz muito tempo, que o tipo de teatro a que chamam ‘stand-up’ se tornou um ninho no Brasil, onde se desenvolveu o ovo da serpente do fascismo”, afirmou Pedro em publicação nas redes sociais.
Embora tenha evitado generalizações, o artista ressaltou que há uma parcela significativa de comediantes que, segundo ele, se aproveita do gênero para disseminar mensagens preconceituosas.
Apoiou condenação de Leo Lins
“Não são todos, mas tantos comediantes de ‘stand-up’ se permitiram as mal educações fascistas que se pode dizer de uma generalidade com exceções. Comediantes com mensagens fascistas valeram-se do ‘stand-up’ e disfarçaram de entretenimento teatral cômico o que era discurso político agressivo”, declarou.
Pedro também apontou que compreende a condenação de Lins, citando que certas piadas ultraam o campo da ficção e acabam reproduzindo comportamentos criminosos. “Devemos criminalizar a piada racista, ou a misoginia, quando o ato já não for ficcional, ainda que disfarçado de o ser”, completou.
Veja o pronunciamento de Pedro Cardoso na íntegra
“Bom dia. Sobre Leo Lins, sugiro que leiam, no site Pretessências, a opinião de Aquiles Argolo. As palavras de Argolo, como sempre, dão-nos a dimensão da potência da violência racista no brasil; e a proporcional reação que, ainda bem, lhe oposta.
Agora, o meu ponto: Eu tenho dito, faz muito tempo, que o tipo de teatro a que chamam “stand up” se tornou um ninho no brasil onde se desenvolveu o ovo da serpente do fascismo. Não todos, mas tantos comediantes de “stand up” se permitiram as mal educações fascistas que se pode dizer de uma generalidade com exceções.
A razão pela qual o gênero “stand up” se prestou a ser tal incubadora se deve a nele o comediante, aparentemente, poder prescindir de representar um personagem e falar, com pretensa graça, na sua primeira pessoa, mantendo-se, entretanto, protegido pois tudo seria ficção.
Comediantes com mensagens fascistas valeram-se do “stand up” e disfarçaram de entretenimento teatral cômico o que era discurso político agressivo. Violentaram o teatro. Pessoas de lados oposto fizeram o mesmo. Acirra-se assim a violência e a conversa pacífica é destruída, atendendo ao interesse dos autoritários. E o teatro, lugar da provocação pela dialética, é reduzido a palanque de agressores, originais ou reativos.
Teatro sem personagem é uma doença do autoritarismo. O público hoje já tem dificuldade de rir de um personagem agressivo por receio de estar aprovando, com seu riso, o que seria a agressividade da pessoa que o representa. Confusão provocada por comediantes irresponsáveis.
Não há crime em ato ficcional narrativo. Personagens são fantasma imateriais. Mas quando o autor toma o lugar do personagem, o ato ficcional se torna disfarce onde se esconde um ato real. Questão de imensa sutileza. Criminalizaremos os versos misóginos do Funk? Nunca se quem os estiver dizendo for o personagem que canta.
Mas devemos criminalizar a piada racista, ou a misoginia, quando o ato já não for ficcional, ainda que disfarçado de o ser. No mais, o que diz Argolo sobre o pacto macabro da branquitude, é a mais absoluta verdade. Insisto no meu ponto: Só o personagem nos salva de nós mesmos. E enquanto isso, Carla foge.”
Entenda a polêmica
O humorista Leo Lins foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão após veicular conteúdos considerados preconceituosos em um show de stand-up realizado em 2022. Além da pena, o comediante terá que pagar uma multa correspondente a 1.170 salários mínimos vigentes na época da gravação, além de uma indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos. Cabe recurso.
Os vídeos publicados nas redes sociais de Leo Lins continham declarações ofensivas contra negros, homossexuais, indígenas, nordestinos, evangélicos, judeus, idosos, obesos, pessoas com HIV e pessoas com deficiência.
O julgamento ocorreu na 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo (TRF3), onde a Justiça entendeu que a liberdade de expressão não pode ser utilizada como justificativa para práticas criminosas.
O caso foi classificado como crime formal, ou seja, não exige uma vítima específica. A condenação foi baseada na Lei do Racismo (Lei 7.716/89) e no Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015). O tribunal destacou que o contexto humorístico não diminui a gravidade das ofensas.
Famosos apoiaram Leo Lins
Desde que o caso ganhou repercussão nas redes sociais, diversos famosos vieram a público para defender Leo Lins e criticar diretamente a condenação à prisão do humorista. Danilo Gentili, Marcos Mion, Leandro Hassum e Hélio de La Peña foram algumas das celebridades que saíram em defesa do comediante.