Ciúme e dose letal: o que se sabe sobre jovens envenenadas com bolos
Garota de 17 anos itiu que colocou arsênico em bolos de pote enviado a duas estudantes da mesma idade em Itapecerica da Serra (SP)
atualizado
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Duas adolescentes de 17 anos foram envenenadas com arsênico injetado em bolos de potes na cidade de Itapecerica da Serra, região metropolitana de São Paulo.
Kamilly Vitória Nogueira da Silva quase morreu ao ingerir o alimento no dia 15 de maio. Já Ana Luiza de Oliveira Neves não resistiu após comer o bolo e morreu no último domingo (1º/6) . Ambas foram vítimas da mesma pessoa.
O primeiro caso só foi revelado após a suspeita ter confessado ambos os crimes. O Metrópoles apurou que a infratora afirmou à polícia ter enviado o bolo envenenado para as meninas “por ciúmes” e alegou querer apenas “dar um susto” nas vítimas.
O boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil diz que a menina “confessou a autoria dos atos de envenenamento de outro bolo que quase levou uma segunda vítima à morte”. Assim como Ana Luiza, Kamilly também recebeu um bilhete junto com o doce.
A menor infratora foi levada pela mãe até a delegacia de Itapecerica, na manhã de terça-feira (3/6), onde confessou os crimes. Após ser ouvida, a menina permaneceu no local sob os cuidados da autoridade policial, que aguarda manifestação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) para que ela seja apreendida.
Segundo a equipe de investigação, apesar de a adolescente dizer que não tinha a intenção de matar a colega, a suspeita é que ela tenha adotado o discurso para amenizar o feito. Para a polícia, o que reforça essa tese é a escolha do arsênico, uma substância altamente letal.
Menina morre após comer bolo de pote
O bolo de pote foi enviado à casa de Ana Luiza, no Parque Paraíso, em Itapecerica da Serra, por volta das 17h de sábado (31/5). Segundo o boletim de ocorrência obtido pelo Metrópoles, a encomenda foi recebida pela irmã da vítima e tinha o bilhete com os dizeres: “Um mimo pra garota mais linda que eu ja vi”.
Por volta das 18h, a adolescente chegou em casa e comeu o bolo. Menos de uma hora depois, ela começou a ar mal e mandou mensagem a um amigo sobre a situação. Esse amigo, então, questionou o fato de a jovem ter comido um alimento sem saber a procedência.
O que se sabe
- Segundo a equipe médica, a jovem foi levada ao pronto-socorro, após aproximadamente 20 minutos de parada cardiorrespiratória.
- Ela estava com cianose — coloração azulada e roxa na pele, causada por falta de oxigenação no sangue –, hipotermia, sem batimentos cardíacos e sem respiração.
- Os médicos tentaram reanimá-la, porém, ela não resistiu.
- Segundo o boletim de ocorrência, a causa da morte foi apontada como intoxicação alimentar.
- O caso foi registrado como morte suspeita pela Delegacia de Itapecerica da Serra.
- O bolo e a embalagem na qual o produto chegou na casa da adolescente foram apreendidos, assim como um pacote de doces e o bilhete.
Com a piora dos sintomas, Ana Luiza foi encaminhada a um hospital particular pelo pai. Nesta unidade de saúde, ela foi atendida pela equipe médica e diagnosticada com um quadro de intoxicação alimentar. No hospital, a adolescente tomou remédio, soro e, após uma melhora do quadro de saúde, foi liberada.
Entretanto, no dia seguinte, ela piorou novamente e foi levada ao pronto-socorro, por volta das 16h. Desta vez, a adolescente já chegou à unidade morta, menos de 24 horas de ter comido o bolo.
Jovem confessou ter envenenado bolos
A Secretaria da Segurança Pública confirmou que, após ouvir a suspeita, a Polícia Civil pediu a apreensão à Justiça da adolescente de 17 anos confessou à polícia ter sido a responsável por ter colocado arsênico no bolo de pote.
A jovem comprou o arsênico na internet, por R$ 80. Os bolos foram feitos por uma doceria local, a Menina Trufa. Posteriormente, a jovem preparou um brigadeiro branco que usou como cobertura do doce e jogou óxido de arsênico em pó por cima. Em seguida, ela solicitou um motoboy para fazer as entregas através de um aplicativo. A infratora pagou R$ 5 em cada delivery. Os bilhetes foram escritos por ela.
Quem era Ana Luiza
Colegas de turma da adolescente Ana Luiza de Oliveira Neves, de 17 anos, que morreu após ter comido um bolo de pote, usaram as redes sociais para se despedir da amiga. Uma publicação na página do “terceirão” G da Escola Estadual João Baptista de Oliveira, em Itapecerica da Serra, diz que Ana Luiza era doce, gentil, sorridente e simpática.
“Com um enorme peso, nossa sala se despede de uma linda estrela […] Nenhuma palavra será suficiente para consolar, mas desejamos que o amor e as lembranças bonitas confortem, pouco a pouco, os corações machucados. Ana foi, e sempre será, parte da nossa história. Levaremos conosco os bons momentos, os aprendizados e o carinho que ela deixou”, escreveram no post.
Ana Luiza foi enterrada na manhã desta terça, no Cemitério Municipal Recanto do Silêncio, em Itapecerica da Serra.
Silvio Ferreira das Neves, o pai de Ana Luiza de Oliveira Neves, desconfiou do alimento, já que não sabia quem havia feito a entrega. Após o velório e sepultamento de Ana Luiza, ele revelou que a jovem compleou 17 anos na semana ada e era uma menina inocente.
“Perdi o amor da minha vida. Ela tinha 17 anos, fez na semana ada. É muito dolorido. Não tem nem palavra para falar o que eu estou sentindo. É difícil demais para mim. Só Deus para me dar força. Minha filha não merecia isso. Ela era uma pessoa do bem, não tinha vício nenhum, não mexia com ninguém, era trabalhadeira”, disse.
Silvio também fez um apelo às famílias, pedindo que, caso recebam encomendas de bolos sem identificação, não aceitem. “Tem muita gente fazendo maldade por aí”, lamentou.
Loja se manifestou
A dona da loja que fabricou o bolo de pote ingerido por Ana Luiza esclareceu que não foi responsável pela entrega do doce à menina. Ela itiu ter sido a fabricante do produto. Segundo publicação no perfil da loja no Instagram, uma pessoa teria adquirido o produto como se fosse para consumo próprio e levado o bolo para outro lugar.
Ainda de acordo com a loja, a entrega à jovem que morreu foi realizada “de um local desconhecido” e por um motoboy que não presta serviços à empresa, sem autorização ou vínculo com a marca.
Além de repudiar as tentativas de associação indevida à marca, a fabricante decidiu fechar a loja nesta terça-feira (3/6), em respeito à família da jovem.
Veja o posicionamento da loja:
A Menina Trufa afirma que está colaborando com as autoridades para esclarecer o ocorrido.
Caso sob segredo de Justiça
Em nota, a Promotoria confirmou apenas que “o MPSP já se manifestou nos autos que tramita em segredo de justiça”, sem detalhar o destino da jovem que confessou os crimes.
O caso é investigado pela Delegacia de Polícia de Itapecerica da Serra. A autoridade policial solicitou ao Poder Judiciário a apreensão da adolescente envolvida na ocorrência e o pedido foi aceito.
A jovem, de 17 anos, que confessou ter colocado veneno em um bolo entregue à vítima, foi levada para uma unidade da Fundação Casa.