Enfermagem: fim do ensino a distância atinge 3,8 mil estudantes no DF
Decisão do Ministério da Educação visa intensificar a formação prática, mas gera controvérsias entre alunos e instituições de ensino no DF
atualizado
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O ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou em 13 de março que os cursos de enfermagem voltarão a ser 100% presenciais no Brasil e extinguiu a modalidade de ensino a distância (EAD) para eles.
Desde junho de 2024, a abertura de cursos nesse formato para a área estava suspensa. Porém, em outubro último, o Distrito Federal ainda registrava cerca de 3.826 matrículas nessa modalidade, de acordo com o Mapa do Educação Superior do Instituto Semesp.
No mercado de trabalho, o DF conta com aproximadamente 43 mil profissionais formados em enfermagem, entre auxiliares, técnicos e enfermeiros graduados. No entanto, a maior parte desses profissionais não tem graduação em nível superior: 75,1% são técnicos e auxiliares, enquanto apenas 24,9% têm diploma de enfermeiro, segundo dados de 2024 do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
Em Brasília, uma das instituições públicas que adota o modelo totalmente presencial para o curso, a Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs), forma 60 enfermeiros por ano, em média. Ela promove a integração do ensino acadêmico com experiências práticas em hospitais e unidades de atendimento desde o primeiro ano do curso.

Coordenadora do curso de enfermagem na Escs, a professora Teresa Christine Morais destaca que o ensino presencial oferece vantagens significativas para a formação de qualidade dos alunos.
“Os cursos presenciais proporcionam o a laboratórios e equipamentos especializados para a prática de procedimentos de enfermagem, além de simulações de alta fidelidade. No modelo EAD, embora o aluno tenha o a conteúdo teórico, a prática e as simulações de situações reais de saúde são limitadas e não atendem completamente às necessidades formativas”, argumenta a professora.
Aos 25 anos, Lorena Soares, formada pela Escs e atualmente no mercado de trabalho, compartilha a importância da metodologia ativa para a jornada acadêmica. “A integração constante entre teoria e prática vivenciada desde a graduação me preparou para os desafios da residência”, afirma.
Ela também destaca que, ao ter contato direto com pacientes e procedimentos em unidades básicas de saúde (UBSs) e hospitais, sentiu-se mais confiante e preparada. “Isso foi crucial para meu destaque em um cenário competitivo”, completou Lorena.
Prejuízos
De outra parte, a Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup) tem se mostrado preocupada com os impactos dessa mudança e defende que a regulação da educação na área da saúde deveria priorizar a melhoria da qualidade do ensino, não impor restrições que podem dificultar a formação de profissionais.
“As novas regras, se consumadas, não afetarão os alunos atualmente matriculados [em EAD], mas vão forçar centenas de milhares de brasileiros a abandonar o sonho de entrar em uma instituição de ensino superior e ter um diploma universitário. Os prejuízos não se limitam aos alunos, mas a toda a sociedade, ao reduzir o número de profissionais qualificados na saúde”, destacou a Anup, por meio de nota.
Aluna do curso de enfermagem EAD, Pamela Lorrany, 28, mora em Taguatinga, está no último semestre da graduação e disse se sentir prejudicada pela possibilidade de mudança para a modalidade presencial. Ela acrescentou que a rotina, que envolve cuidar de dois filhos e trabalhar em casa, dificulta a disponibilidade para frequentar a faculdade todos os dias.
Além disso, a diferença de valores entre o curso presencial e o EAD é outro fator que a preocupa. “Se eu não estivesse no último semestre e precisasse migrar para o formato presencial, isso provavelmente dificultaria minha permanência no curso. Porém, não me sinto menos enfermeira por isso, pois não deixei a desejar em momento algum. Eu me sinto preparada e capacitada para exercer minha profissão”, completa Pamela.