Camacho sobre o pai Marcola: “Preciso ressignificar esse nome”
À coluna, o adolescente de 16 anos falou sobre seus objetivos e como lida com o fato de ser conhecido como “o filho do líder do PCC”
atualizado
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Em entrevista à coluna, Lucas Giglioli Herbas Camacho, 17 anos, o filho de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, considerado líder máximo do Primeiro Comando da Capital (PCC), quebrou o silêncio e decidiu falar sobre sua relação com o pai, além dos objetivos que tem para seu futuro.
Quando Lucas nasceu, Marcola já estava preso em uma penitenciária no estado de São Paulo. Diante disso, o adolescente nunca teve, de fato, a presença paterna dentro de casa.
Segundo ele, foi pesado crescer longe do pai. “Crescer com o pai preso é crescer com metade da identidade faltando. A memória que mais marcou foi uma visita que fiz quando era moleque. Eu não entendia tudo, mas vi nos olhos dele o peso das escolhas. Aquilo ficou em mim.”
Ainda que não veja Marcola diariamente, Lucas afirma que o pai ainda faz seu papel, o aconselhando a seguir pelo caminho certo.
“Ele me a a visão. Não é aquele pai presente do dia a dia, mas nas conversas que temos, deixa claro que a vida que ele viveu não tem romantismo nenhum. Ele não quer que eu repita isso. Tem um amor ali, silencioso, mas real”, expressou.
Além de ser filho do líder máximo do PCC, Lucas é sobrinho de Alejandro Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha — assim como o irmão, o homem está preso na Penitenciária Federal de Brasília e faz parte da alta cúpula do PCC.
Diferentemente de Marcola, Marcolinha teve contato direto com o menino antes de ser preso. “Meu tio (Marcolinha) foi um tipo de referência masculina quando o pai não estava. Não é santo, nem perfeito, mas foi alguém que me deu disciplina quando precisei. Amo meu tio e meu pai e não ligo para o que a mídia acha deles”, declarou.
Impossibilitado de manter contato próximo com seu pai e tio, ele tem, atualmente, sua mãe como sua maior referência. “A força dela para me criar sozinha, segurando o mundo, é algo que nunca vou esquecer”, apontou.
O peso de ser filho do “líder”
Perguntado sobre ter medo ou se sentir intimidado diante da quantidade de inimigos acumulados pelo pai ao longo de sua vida, Lucas respondeu de forma enfática que não há temor.
Por outro lado, revelou que o incomoda o fato de ter seu nome sempre atrelado ao codinome do pai, mas confessou que pretende ressignificar o cenário.
“Parece que não importa o que eu faça, eu sou ‘o filho do Marcola’. Mas também entendi que não adianta lutar contra isso — eu preciso ressignificar esse nome. Se antes ele era medo, quero que agora seja força, recomeço”, enfatizou.
Com a rotina como a de qualquer adolescente, Lucas, que está no 3° ano do ensino médio, estuda, treina e lê.
No entanto, revelou que tem cuidados especiais em relação à sua segurança, “Não dando mole na rua à toa. Medidas de segurança fazem parte, infelizmente, mas também não vivo em paranoia. Só respeito o contexto em que fui criado”.
Carreira musical
Em abril deste ano, a coluna publicou, em primeira mão, que o adolescente pretendia lançar carreira no universo da música.
A revelação veio acompanhada da notícia de que um feat bombástico ao lado de Mauro Davi Nepomuceno, o Oruam — filho de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, apontado como líder do Comando Vermelho (CV) — será lançado ainda este ano.
Segundo Lucas, a música é sua válvula de escape. “É minha resposta para o mundo. É como eu falo o que nunca pude dizer em voz alta. Não é só som, é sobrevivência.”
Quero mostrar que dá pra quebrar ciclo. Que mesmo vindo do caos, você pode transformar dor em arte. Eu não sou o que esperavam de mim. Sou o que eu decidi ser. E quero que quem me ouça entenda que ele também pode mudar a própria história.
Em maio, ele lançou uma prévia de sua música dedicada ao pai. A letra fala sobre a saudade e a expectativa pela libertação de Marcola.
Aspirante a cantor, o adolescente tem suas referências. Citou os rappers Rashid, Emicida e BK’ como suas inspirações. “São caras que falam da quebrada com poesia e visão.”
Presos
Atualmente, Marcola e Marcolinha estão detidos na Penitenciária Federal de Brasília.
Nessa quarta-feira (4/6), a coluna noticiou que o tio de Lucas Camacho o enviou uma carta parabenizando- o pela carreira musical e destacando o orgulho que o adolescente tem dado à família.
Nesta quinta (5/6), em mais uma exclusiva, a coluna revelou que policiais penitenciários federais, em conjunto com a Polícia Militar do DF, montaram um esquema de guerra para levar Marcola ao Hospital de Base de Brasília para fazer exames nesta manhã. O ambulatório da unidade foi fechado, e o subsolo ficou aos policiais e profissionais responsáveis pelo procedimento. A coluna apurou que o líder do PCC foi fazer ressonância.