Comunicar não é somente transmitir conteúdo
Membro da Aberje, a especialista em linguística Vívian Cristina Rio Stella explica neste artigo que falar é sobre interagir, ouvir, entender
atualizado
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“Eu falei, expliquei tudo direitinho, se a pessoa não entendeu, o problema é…”
Você já disse essa frase alguma vez? E como a completou: o problema é dele (como usualmente escuto), meu ou nosso?
Essa pergunta nos convida a pensar sobre como concebemos comunicação e clareza.
Em definições de livros, nas respostas das pessoas nos meus cursos e na forma como as pessoas se expressam, aparece com muita frequência a noção de que comunicar é transmitir informação. Mas como bem alerta Maurizio Gnerre, em seu emblemático livro “Linguagem, escrita e poder”, veicular conteúdo é somente uma das funções da linguagem, afinal, as pessoas falam para serem ouvidas, para serem respeitadas, para exercerem influência, entre outras finalidades.
O que isso significa na prática? Que comunicar é interagir, é um estar com o outro, e não apenas falar para o outro. E entender isso muda muita coisa.
A começar pelo “problema” de não ser entendido, que deixa de ser só dele ou só meu, a a ser nosso. Compreendemos o efeito das nossas escolhas de canal, de palavras, de abordagem, enfim, de como comunicar e não somente do que dizer ou escrever.
amos a enxergar a outra pessoa não apenas como um repositório de conteúdo, mas como efetivamente uma pessoa, que pode não estar num dia bom, que pode precisar de 100 em vez de 10 palavras para compreender (ou o inverso), que quer contar uma anedota para dar leveza à conversa ou que quer ser o mais rápido possível para resolver um problema.
Adequamos nossa abordagem e nossa linguagem para atender o contexto, a(s) pessoa(s) envolvida(s) na comunicação e, consequentemente, conseguimos ser mais claros, empáticos e eficientes.
Note que esse percurso requer se dispor a sair do automatismo, que impera em grande parte das comunicações. E sair desse piloto automático é valioso, para que a comunicação deixe de ser vista como um “problema” dele ou meu, mas sim uma solução para nós.
Depois dessa reflexão, te convido a olhar para os atributos da comunicação com mais carinho e cuidado, porque a forma como cada pessoa entende clareza, concisão, adequação, autenticidade reverbera em como comunicamos. Que tal ar o glossário que elaborei para conceituar essas e outras palavras que habitam a comunicação e cujos sentidos nem sempre estão claros ou delineados em sua complexidade? Vai ser ótimo te “encontrar” por lá.
Vívian Rio Stella, Bacharela e Doutora em Linguística pela Unicamp, com pós-doutorado em Linguística Aplicada pela PUC-SP, especialista em comunicação. Idealizadora da VRS Academy. Professora da Casa do Saber, da Aberje, da Cásper Líbero e da Unianchieta.