Blackface: prática racista já foi pauta na moda. Relembre casos
Recentemente, a atriz Fernanda Torres se pronunciou sobre um caso de 17 anos atrás. Grifes como Prada e Gucci já foram acusadas no ado
atualizado
Compartilhar notícia

O termo “blackface” voltou a figurar entre as discussões on-line na última semana após virem à tona casos cometidos anos atrás pelas atrizes Fernanda Torres e Zoe Saldaña. As duas estão indicadas em categorias de atuação do Oscar 2025, para Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente. A palavra refere-se a uma prática racista que já foi pauta também na indústria da moda, como a coluna mostra a seguir.
Por que o assunto voltou a ser discutido?
- O blackface ocorre quando pessoas não negras escurecem a pele para simular traços de pessoas negras. A prática racista remonta ao século 19, quando atores brancos pintavam o rosto de preto e exageravam os lábios em vermelho para representar, de forma pejorativa, personagens negros no teatro e no entretenimento.
- Concorrendo a Melhor Atriz no Oscar 2025, pela atuação no filme Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres se pronunciou sobre uma ocasião que veio à tona na web, quando fez blackface em um programa de TV em 2008. Na esquete, ela aparece com a pele pintada em tom escuro para interpretar uma empregada doméstica.
- A atriz brasileira se desculpou publicamente sobre o caso. Em declaração ao site internacional Deadline, ela explicou que, apesar dos esforços do movimento negro, o simbolismo negativo e racista da prática não estava claro na “consciência pública” no Brasil há 17 anos, como está no dias atuais.
- Com a discussão, internautas resgataram outro caso, envolvendo Zoe Saldaña, indicada a Melhor Atriz Coadjuvante pela atuação em Emilia Pérez. A artista norte-americana, que é negra, protagonizou uma cinebiografia de Nina Simone, de 2016, com a pele escurecida, para se assemelhar ao tom da cantora. Em 2020, ela se desculpou pela participação no projeto e disse que “nunca deveria ter interpretado Nina”.

Casos na moda: boneco da Prada
Na moda, alguns anos atrás, grifes globais também foram acusadas de blackface, por causa de peças que remetiam ao visual da prática racista. Em 2018, a Prada retirou das lojas um boneco, aparentemente inspirado na figura de um macaco, com lábios vermelhos volumosos. O personagem “imaginário e fantasioso”, batizado de Otto Toto, era parte da coleção Pradamalia, que, segundo a marca, não fazia referência ao mundo real.

O caso viralizou em dezembro daquele ano, após uma advogada, que havia visto uma exposição sobre blackface, publicar em rede social que entrou em uma loja da grife e se deparou com os órios. Com a repercussão, a empresa italiana se pronunciou, afirmando que os produtos não seriam vendidos, e se desculpou pela ofensa causada pelos itens.
“A semelhança dos produtos ao blackface não foi intencional, de forma alguma, mas nós reconhecemos que isso não justifica o dano causado. De agora em diante, nós juramos melhorar nosso treinamento em diversidade e vamos imediatamente formar um conselho consultivo para guiar nossos esforços de diversidade, inclusão e cultura”, comunicou a label. “Iremos aprender a partir disso e faremos melhor.”

Balaclava da Gucci
No ano seguinte, a Gucci foi criticada por lançar um suéter preto de gola alta, com um detalhe vermelho na região da boca, similar à representação dos lábios de pessoas negras nas práticas de blackface de séculos atrás. O site da grife mostrava uma modelo branca usando a peça, detalhe que agravou a situação.

A repercussão do produto teve manifestações, inclusive, de celebridades, como o rapper 50 Cent, que publicou um vídeo no Instagram queimando uma camiseta da Gucci, em boicote à marca. Os rappers T.I, Waka Flocka Flame e Soulja Boy, assim como o diretor Spike Lee, também se pronunciaram sobre o caso. “As grifes precisam de profissionais negros dentro do escritório quando essas coisas acontecem”, comentou o cineasta, na época.
Em resposta às manifestações, a grife afirmou, em pronunciamento, que retiraria o item de circulação e se comprometeria em reforçar a diversidade e promover o respeito. “Estamos totalmente comprometidos em aumentar a diversidade por toda a nossa companhia e tornar esse incidente um poderoso momento de aprendizado para o time Gucci”, declarou a empresa.

Calçados da marca de Katy Perry
Também em 2019, a Katy Perry Collections, linha de calçados da cantora estadunidense, foi acusada de blackface, devido à variação na cor preta dos modelos The Rue e The Ora. As peças, decoradas com olhos e boca vermelha, e disponíveis em nove cores, seriam “um aceno à arte moderna e ao surrealismo”, mas também foram retiradas de circulação após a polêmica.

“Fiquei triste quando soube que estavam sendo comparados a imagens dolorosas que lembram o blackface. Nossa intenção nunca foi infligir qualquer dor”, comentou a artista, sobre o caso.