Cacau Show: loja destruída por enchente no RS teve que arcar com prejuízo. Veja fotos
Como mostrou o Metrópoles, loja foi inundada durante as enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024. Franqueada teve que pagar por tudo sozinha
atualizado
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Como mostrou o Metrópoles, a comoção em todo o país por causa das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024 não fez a Cacau Show mudar qualquer regra ou cobrança. Após ver sua loja destruída, uma franqueada teve que pagar por todos os produtos — com royalties e taxas.
A Cacau Show, segundo ela, entrou em contato apenas para saber o motivo da loja não ter vendido nada nos dias seguintes à tragédia — situação que constataram por conta da ausência de movimentação no sistema da empresa.
“A água foi até o teto. Montanhas de chocolates, móveis, eletrônicos, eletrodomésticos, louças. Tudo foi pela sarjeta”, contou a franqueda. “Ao invés de qualquer apoio, recebi ligações de consultores questionando o motivo de a loja estar fechada, sem vendas.”
Veja como a loja ficou:
Recentemente, ao tentar sair da Cacau Show, ela pediu ajuda novamente e tentou negociar a dívida. Ouviu outro não. “Pedi uma negociação, um parcelamento de alguns valores. A resposta foi que não era possível e que sentiam muito pelo que tinha acontecido.”
Carta
O fundador e CEO da Cacau Show, Alê Costa, enviou uma carta para franqueados após o Metrópoles revelar processos judiciais e o clima de seita e perseguição dentro da maior franqueadora do país. A coluna também mostrou o sufocamento dos franqueados com a cobrança de taxas que não estavam previstas e mudanças de valores dos produtos e de políticas da empresa sem aviso.
Na carta, Alê Costa fala em “um cenário desafiador” e aponta “o maior aumento de preço do cacau da história, motivado por questões climáticas e dificuldades nas lavouras globais”. Uma das principais queixas dos franqueados, no entanto, foi a cobrança justamente de uma taxa batizada de “taxa do cacau” por parte da Cacau Show.
O CEO também fala da “instabilidade econômica”, que, de acordo com ele, “impactou fatores como crédito e custos operacionais”.
Ao citar investimentos, Alê Costa aponta a construção de um novo centro de distribuição e do Cacau Park. Segundo o CEO, “um espaço pioneiro que representa o futuro da nossa marca e será um orgulho para todos os brasileiros”.
Ao custo de R$ 2 bilhões, o megaempreendimento é uma ode a Alê Costa e à rede criada por ele, que hoje conta com mais de 4 mil unidades espalhadas em todo o Brasil.
Os carrinhos de bate-bate, por exemplo, são Fuscas azuis modelo 1988. Uma referência ao primeiro veículo que Alê teria usado para vender chocolates (confira imagens na galeria abaixo).
Alê Costa encerra a carta reconhecendo “o momento delicado”. “Reforço que estamos mais fortes e unidos do que nunca, acompanhando e gerindo tudo da melhor maneira possível”, diz o texto.
Confira a carta na integra:
Querido(a) franqueado(a),
Espero que tenham retornado bem após a nossa deliciosa Convenção Nacional de Vendas. Foi uma alegria ter vocês conosco e termos vivido momentos tão especiais.
Aqui na Cacau Show, acreditamos que cada história empreendedora que construímos juntos é única, e é exatamente por isso que estou escrevendo a vocês.
Nos últimos dias, algumas matérias circularam na mídia com interpretações e alegações que não representam quem somos, e tenho noção de como isso pode gerar preocupações. Quero reforçar que, nesses 37 anos de história, sempre buscamos estar ao lado de cada um de vocês, com uma comunicação aberta e transparente, para enfrentar desafios e celebrar conquistas.
Se hoje somos a maior rede de chocolates finos do mundo e a maior franqueadora do Brasil, é porque nunca abrimos mão do que realmente importa: ética, confiança, respeito e, acima de tudo, a conexão verdadeira com você e seu negócio.
Sabemos que o cenário recente tem sido desafiador. Desde o ano ado, enfrentamos o maior aumento de preço do cacau da história, motivado por questões climáticas e dificuldades nas lavouras globais. Além disso, a instabilidade econômica também impactou fatores como crédito e custos operacionais.
Mas quero que você saiba que não estamos parados. Estamos investindo mais do que nunca na melhoria dos nossos processos: reforçamos a área de Logística, aceleramos a construção de um novo Centro de Distribuição e demos os ousados como o Cacau Park — um espaço pioneiro que representa o futuro da nossa marca e será um orgulho para todos os brasileiros.
Tudo isso é para fortalecer ainda mais o seu negócio e garantir que possamos seguir crescendo juntos, Porque acreditamos que cada loja, cada franqueado, é parte essencial do que somos e do que podemos ser.
Por isso, quero deixar claro que rejeitamos veementemente qualquer afirmação ou acusação que vá contra os valores que sempre nos guiaram. E reafirmo o nosso compromisso com você, com nossos clientes e com o mercado: vamos continuar lado a lado, tocando a vida das pessoas e criando momentos especiais que só a Cacau Show sabe oferecer.
Reconheço esse momento delicado e reforço que estamos mais fortes e unidos do que nunca, acompanhando e gerindo tudo da melhor maneira possível.
Estamos à disposição para conversar e esclarecer qualquer dúvida. A sua confiança é a base dessa história linda que estamos construindo e fundamental para atravessarmos, juntos, esse momento.
Com carinho,
Alê Costa
“Rastro de pessoas quebradas”
Como mostrou a coluna, são muitas as histórias parecidas. E elas começam com o encantamento, a “magia” da maior franquia de chocolates do país, a expectativa de um bom negócio, a empolgação com a realização de um sonho.
Até que chegam as primeiras cobranças, taxas e multas que não haviam sido mencionadas lá no início. Aditamentos do contrato, novos preços pelos produtos. Para continuarem funcionando, os franqueados encomendam mais produtos, na expectativa de vender mais e ter lucro. Surgem dívidas impagáveis com a franqueadora, avalizadas com bens como casas e carros do franqueados. É quando começa o pesadelo.
A coluna ouviu relatos de dezenas de franqueados. A maioria opta pelo anonimato por causa do medo. Além das retaliações, eles devem para a Cacau Show. Não conseguem sair sem assumir dívidas mirabolantes ou abrirem mão dos bens que foram dados como garantia. O contrato prevê, ainda, a interferência da Cacau Show na venda das lojas falidas, avaliando os compradores que am a ser, também, franqueados da rede.
Dona Irene Angelis, ex-franqueada há quase uma década, vê um ciclo. “A sensação que eu tenho é que quanto mais franqueado quebrar, mais loja ele vai rear, vai ganhar taxa de franquia, vai ganhar juros. Virou uma indústria. E ele lucra com tudo. Ficou bilionário deixando um rastro de pessoas quebradas”, revela dona Irene, que chegou a ter seis lojas da rede.
“É um rastro de gente doente, gente que perdeu a casa, que não consegue dormir, gente com problemas psicológicos”, completa. Dona Irene conta que ficou doente, desenvolveu síndrome do pânico e insuficiência cardíaca. Perdeu R$ 3 milhões.
“Quando você entra, quando você assina os contratos, é um mar de rosas. Depois, o contrato vai mudando, vai fazendo aditamento. E você já está amarrado, não tem como pular fora. Não tem essa de não tá bom, sai. Você já colocou o seu dinheiro”, relata.
“Vai benzer”
Quando o mundo mágico oferecido aos franqueados começa a ruir, muitos procuram ajuda, mas, ao invés de planos de negócios, apoio ou qualquer ajuda realmente útil, escutam discursos motivacionais. Uma franqueada conta que procurou a consultora que atendia à loja e escutou que “precisava se benzer”. “Ela insinuou que era só comigo”, lembra.
A franqueada conta que procurou cursos de formação antes de realizar o sonho de montar uma loja da Cacau Show. Peguei minhas economias, investi no sonho de ter uma loja. E, depois de três anos trabalhando feito louca, sem folga, sem férias, sem ar Natal nem Páscoa com a minha família, saí cheia de dívidas, muito abalada emocional e psicologicamente”, relata.
“Morta-viva”
“Perdi a vontade de viver, me sinto uma morta-viva”, conta uma franqueada que ainda tenta se desfazer da loja montada por ela. “Sonhei por muito tempo, envolvi toda a minha família, todo mundo ajudou. Quando as coisas começaram a dar errado, eu não aceitei, insisti, achei que, me dedicando mais, eu viraria o jogo”, pontua.
“Eu sentia que o problema era eu, já que via tantos casos de sucesso. Fui ficando doente e me endividando”, lembra. Ela conta ter uma dívida de R$ 750 mil e diz não saber como irá quitá-la. “Não sei como reagir, sinto medo e vergonha.”