{ "@context": "https://schema.org", "@graph": [ { "@type": "Organization", "@id": "/#organization", "name": "Metrópoles", "sameAs": [ "https://www.facebook.com/metropolesdf", "https://twitter.com/Metropoles" ], "logo": { "@type": "ImageObject", "@id": "/#logo", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fs.metropoles.cloud%2Fwp-content%2Fs%2F2024%2F04%2F30140323%2Fmetropoles-2500x2500-4-scaled.jpg", "contentUrl": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fs.metropoles.cloud%2Fwp-content%2Fs%2F2024%2F04%2F30140323%2Fmetropoles-2500x2500-4-scaled.jpg", "caption": "Metrópoles", "inLanguage": "pt-BR", "width": "2560", "height": "2560" } }, { "@type": "WebSite", "@id": "/#website", "url": "", "name": "Metrópoles", "publisher": { "@id": "/#organization" }, "inLanguage": "pt-BR" }, { "@type": "ImageObject", "@id": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fs.metroimg.com%2Fwp-content%2Fs%2F2025%2F06%2F03181010%2Fsuperdotado.jpg", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fs.metroimg.com%2Fwp-content%2Fs%2F2025%2F06%2F03181010%2Fsuperdotado.jpg", "width": "2400", "height": "1600", "caption": "Imagem mostra criança pequena escrevendo equações matemáticas em uma lousa de giz - Metrópoles", "inLanguage": "pt-BR" }, { "@type": "WebPage", "@id": "/ciencia/dificuldades-tecnicas-e-racismo-atrasam-identificacao-de-superdotados#webpage", "url": "/ciencia/dificuldades-tecnicas-e-racismo-atrasam-identificacao-de-superdotados", "datePublished": "2025-06-04T02:00:30-03:00", "dateModified": "2025-06-04T02:00:30-03:00", "isPartOf": { "@id": "/#website" }, "primaryImageOfPage": { "@id": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fs.metroimg.com%2Fwp-content%2Fs%2F2025%2F06%2F03181010%2Fsuperdotado.jpg" }, "inLanguage": "pt-BR" }, { "@type": "Person", "@id": "/author/the-conversation", "name": "The Conversation", "url": "/author/the-conversation", "worksFor": { "@id": "/#organization" } }, { "@type": "NewsArticle", "datePublished": "2025-06-04T02:00:30-03:00", "dateModified": "2025-06-04T02:00:30-03:00", "author": { "@id": "/author/the-conversation", "name": "The Conversation" }, "publisher": { "@id": "/#organization" }, "@id": "/ciencia/dificuldades-tecnicas-e-racismo-atrasam-identificacao-de-superdotados#richSnippet", "isPartOf": { "@id": "/ciencia/dificuldades-tecnicas-e-racismo-atrasam-identificacao-de-superdotados#webpage" }, "image": { "@id": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fs.metroimg.com%2Fwp-content%2Fs%2F2025%2F06%2F03181010%2Fsuperdotado.jpg" }, "inLanguage": "pt-BR", "mainEntityOfPage": { "@id": "/ciencia/dificuldades-tecnicas-e-racismo-atrasam-identificacao-de-superdotados#webpage" }, "articleBody": "*O artigo foi escrito pela professora Vera Lucia Messias Fialho Capellini, que também é diretora da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e publicada na plataforma The Conversation Brasil. Estudantes com superdotação são aqueles que revelam desempenho diferenciado em áreas como criatividade, pensamento original e rapidez de aprendizagem. Estima-se que entre 3% e 5% da população apresentem altas habilidades/superdotação (AH/SD, sigla em português), independentemente de gênero, classe social ou etnia. No Brasil, apenas 0,5% a 2% dos estudantes são formalmente identificados como superdotados, o que está muito abaixo da prevalência global. Em grande parte, isso se deve à carência de recursos, formação docente inadequada e lacunas nos programas de enriquecimento curricular. Há também vieses de gênero e raça. A falta de identificação e de atendimento adequado a esses indivíduos representa uma séria dificuldade no contexto educacional brasileiro, como atestam dados do último Censo Escolar. As pesquisas evidenciam que jovens com AH/SD podem enfrentar desafios sociais — como isolamento e discriminação — ao mesmo tempo em que exibem traços positivos de liderança e cooperação. Muitos mitos sobre autossuficiência também prejudicam sua identificação. Um deles é a crença de que esses estudantes sempre apresentam desempenho acima da média em todas as disciplinas ou não têm dificuldades emocionais. Isso não corresponde à realidade. Leia também Saúde Seu filho vai mal na escola? Ele pode ser superdotado. Entenda sinais Na Mira Saiba quem é o hacker superdotado preso por vender dados da PF e FBI Ciência Aos 2 anos, menino se torna membro mais jovem de sociedade de alto QI São Paulo Superinteligentes: SP lidera ranking de pessoas com alto QI no Brasil Na prática, o reconhecimento desses jovens enfrenta diversos obstáculos, ainda que as suas características sejam bastantes estudadas no Brasil. Os instrumentos de avaliação, por exemplo, são escassos e de difícil o. Professores e gestores muitas vezes não têm informação especializada e não há normas unificadas que guiem esse processo de forma consistente. Para lidar com essas barreiras, há mais de uma década adotamos uma avaliação multimodal no campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista, no interior do estado de São Paulo. Usamos os conhecidos testes de QI (quociente de inteligência, indicador desenvolvido por Alfred Binet no início do século 20) em conjunto com outros instrumentos para uma avaliação mais completa, que associa a aplicação do Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ). Trata-se de um instrumento de triagem para avaliar sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade, dificuldades com colegas e comportamento pró-social — e observação direta de pais e professores. Iniciativas para fortalecer a sociabilidade de superdotados Uma das consequências da falta de identificação dos jovens com AH/SD é que isso impede seu o a oportunidades de enriquecimento curricular por meio de um atendimento educacional especializado. Quando esses jovens conseguem o a atividades complementares, o processo muitas vezes reflete a falta de equidade de gênero e raça, reforçando o machismo e o racismo estrutural em nossa sociedade. Essa combinação de barreiras institucionais e vieses de seleção faz com que meninas e estudantes de grupos étnico-raciais sub-representados sejam menos selecionados e apoiados, privilegiando meninos brancos em detrimento de meninos e meninas pretos e pardos e perpetuando desigualdades históricas que minam o potencial de talentos diversos. Mais um aspecto importante em relação aos jovens com AH/SD é que nem sempre questões emocionais (ansiedade, tristeza, baixa estima e irritabilidade) e dificuldades de interação (rejeição, conflitos e isolamento) são percebidas a partir da autoavaliação. Os relatos dos pais e professores também nem sempre são completamente confiáveis a esse respeito, e por isso não podem ser a única referência. Em Bauru, desenvolvemos algumas ações para dar e aos estudantes com AH/SD. Os resultados têm sido excelentes. A iniciativa “Da identificação de estudantes com indicadores de AH/SD ao enriquecimento curricular” hoje atende mais de 300 estudantes residentes na cidade e região, encaminhados por famílias, escolas e profissionais de saúde. O enriquecimento curricular, ligado aos cursos de extensão, é uma proposta interdisciplinar que proporciona experiências dentro e fora da sala de aula, fortalecendo a sociabilidade e reduzindo o isolamento. Em um estudo recente, realizado ao longo de 2024 e publicado em janeiro de 2025 no periódico internacional em inglês “Social Skills in Gifted Students”, envolvemos 17 estudantes com idades entre 7 e 15 anos em atividades de enriquecimento. Elas incluíram estudo de teoria musical, robótica, aulas de inglês, prática de esportes, idas ao teatro, zoológico e ao Observatório Didático de Astronomia. O resultado foi uma redução de sintomas emocionais (de 2 para 0) e de problemas com colegas (de 3 para 1), segundo autoavaliação dos estudantes. Além disso, para estimular a sociabilidade e conter o foco excessivo em interesses particulares, orientamos os pais a limitarem o tempo dos filhos sozinhos com tecnologias (tais como smartphones, tablets, computadores e jogos eletrônicos) e incentivar a participação em esportes e aulas de línguas, promovendo interação com pares. Mais ações foram criadas. Em 2019, foi lançado o programa Escola de Talentos, vinculado ao Instituto Principia em São Paulo. Voltado a estudantes do ensino médio com desempenho destacado em olimpíadas escolares, 70% dos participantes se enquadram no perfil das AH/SD. O programa oferece atividades híbridas, reuniões online e encontros presenciais, com foco na colaboração e no desenvolvimento de projetos de pesquisa orientados por professores universitários. Falta formação, sobra desigualdade Lamentavelmente, muitos professores no país ainda desconhecem a avaliação multimodal e também que há leis garantindo que estudantes com AH/SD sejam atendidos pelos programas de educação especial. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPI, de 2011), reconhece as AH/SD como prioridade, assim como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996. No entanto, sua aplicação ainda é desigual entre estados e municípios, refletindo desequilíbrios na formação inicial e continuada de professores e na oferta de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Nossa principal recomendação tem sido investir tanto na formação inicial como na continuada de professores, a fim de transformar a realidade das pessoas com AH/SD. A literatura internacional enfatiza a necessidade de formações continuadas e integradas ao cotidiano escolar, ao invés de cursos pontuais, para garantir que educadores estejam aptos a identificar e atender essas crianças. Também é necessário vigiar e corrigir desigualdades. Mesmo quando ações de enriquecimento são ofertadas, persistem vieses de gênero e raça: meninas e mulheres pretas e pardas, por exemplo, ficam em desvantagem na seleção para atividades complementares, reforçando o racismo estrutural e o machismo em nossa sociedade. Em um levantamento recente, pesquisei 155 estudantes indicados pelos professores como potenciais casos de AH/SD no ensino fundamental de escolas estaduais de Bauru e Lençóis Paulista, no interior do estado de São Paulo. Desse total, 55 eram meninas, mas apenas duas se autodeclararam negras ou pardas (uma preta e uma parda), evidenciando não só subnotificação de talentos negros como também vieses raciais e de gênero na indicação; entre os indicados, houve apenas três meninos que se autodeclararam negros ou pardas (dois pretos e um pardo). Iniciado no segundo semestre de 2024 e concluído em maio de 2025, o projeto avança agora para um novo levantamento com 640 estudantes das mesmas escolas, cuja correção de testes pode revelar ainda mais casos, especialmente entre estudantes negros e meninas. Esse processo, que utiliza múltiplos instrumentos padronizados e demanda tempo e cuidado, reforça a urgência de políticas escolares inclusivas, antirracistas e com perspectiva de gênero, capazes de reconhecer, valorizar e apoiar talentos diversos. Para transformar a realidade desses jovens com AH/SD é fundamental aumentar o investimento governamental em pesquisas e em programas educacionais que contemplem a identificação, o atendimento desses estudantes e a formação de professores, bem como promover a sensibilização da sociedade. Sem essas medidas, continuaremos a desperdiçar talentos que poderiam contribuir de forma criativa e inovadora para os desafios contemporâneos. Portanto, reconhecer, valorizar e atender adequadamente esses estudantes é mais um compromisso urgente e inadiável da educação brasileira. Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Receba notícias de Saúde e Ciência no seu WhatsApp e fique por dentro de tudo! Basta ar o canal de notícias do Metrópoles no WhatsApp. Para ficar por dentro de tudo sobre ciência e nutrição, veja todas as reportagens de Saúde.", "keywords": "ciência", "headline": "Dificuldades técnicas e racismo atrasam identificação de superdotados", "locationCreated": { "@type": "Place", "name": "Brasília, Distrito Federal, Brasil", "geo": { "@type": "GeoCoordinates", "latitude": "-15.7865938", "longitude": "-47.8870338" } } } ] }Dificuldades técnicas e racismo atrasam identificação de superdotados | Metrópolesbody { font-family: 'Merriweather', serif; } @font-face { font-family: 'Merriweather-Regular'; src: local('Merriweather-Regular'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-regular.woff2') format('woff2'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-regular.woff') format('woff'); font-display: swap; } @font-face { font-family: 'Merriweather-Bold'; src: local('Merriweather-Bold'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-bold.woff2') format('woff2'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-bold.woff') format('woff'); font-display: swap; } @font-face { font-family: 'Merriweather-Heavy'; src: local('Merriweather-Heavy'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-heavy.woff2') format('woff2'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-heavy.woff') format('woff'); font-display: swap; } @font-face { font-family: 'Merriweather-Italic'; src: local('Merriweather-Italic'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-italic.woff2') format('woff2'), url('https://files.metroimg.com/fonts/v2/merriweather/merriweather-italic.woff') format('woff'); font-display: swap; }
metropoles.com

Dificuldades técnicas e racismo atrasam identificação de superdotados

No Brasil, apenas 0,5% a 2% dos estudantes são formalmente identificados como superdotados, o que está muito abaixo da prevalência global

atualizado

metropoles.com

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Justin Lewis via GettyImages
Imagem mostra criança pequena escrevendo equações matemáticas em uma lousa de giz - Metrópoles
1 de 1 Imagem mostra criança pequena escrevendo equações matemáticas em uma lousa de giz - Metrópoles - Foto: Justin Lewis via GettyImages

*O artigo foi escrito pela professora Vera Lucia Messias Fialho Capellini, que também é diretora da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e publicada na plataforma The Conversation Brasil.

Estudantes com superdotação são aqueles que revelam desempenho diferenciado em áreas como criatividade, pensamento original e rapidez de aprendizagem. Estima-se que entre 3% e 5% da população apresentem altas habilidades/superdotação (AH/SD, sigla em português), independentemente de gênero, classe social ou etnia.

No Brasil, apenas 0,5% a 2% dos estudantes são formalmente identificados como superdotados, o que está muito abaixo da prevalência global. Em grande parte, isso se deve à carência de recursos, formação docente inadequada e lacunas nos programas de enriquecimento curricular. Há também vieses de gênero e raça.

A falta de identificação e de atendimento adequado a esses indivíduos representa uma séria dificuldade no contexto educacional brasileiro, como atestam dados do último Censo Escolar.

As pesquisas evidenciam que jovens com AH/SD podem enfrentar desafios sociais — como isolamento e discriminação — ao mesmo tempo em que exibem traços positivos de liderança e cooperação. Muitos mitos sobre autossuficiência também prejudicam sua identificação. Um deles é a crença de que esses estudantes sempre apresentam desempenho acima da média em todas as disciplinas ou não têm dificuldades emocionais. Isso não corresponde à realidade.

Na prática, o reconhecimento desses jovens enfrenta diversos obstáculos, ainda que as suas características sejam bastantes estudadas no Brasil. Os instrumentos de avaliação, por exemplo, são escassos e de difícil o. Professores e gestores muitas vezes não têm informação especializada e não há normas unificadas que guiem esse processo de forma consistente.

Para lidar com essas barreiras, há mais de uma década adotamos uma avaliação multimodal no campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista, no interior do estado de São Paulo. Usamos os conhecidos testes de QI (quociente de inteligência, indicador desenvolvido por Alfred Binet no início do século 20) em conjunto com outros instrumentos para uma avaliação mais completa, que associa a aplicação do Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ). Trata-se de um instrumento de triagem para avaliar sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade, dificuldades com colegas e comportamento pró-social — e observação direta de pais e professores.

Iniciativas para fortalecer a sociabilidade de superdotados

Uma das consequências da falta de identificação dos jovens com AH/SD é que isso impede seu o a oportunidades de enriquecimento curricular por meio de um atendimento educacional especializado.

Quando esses jovens conseguem o a atividades complementares, o processo muitas vezes reflete a falta de equidade de gênero e raça, reforçando o machismo e o racismo estrutural em nossa sociedade. Essa combinação de barreiras institucionais e vieses de seleção faz com que meninas e estudantes de grupos étnico-raciais sub-representados sejam menos selecionados e apoiados, privilegiando meninos brancos em detrimento de meninos e meninas pretos e pardos e perpetuando desigualdades históricas que minam o potencial de talentos diversos.

Mais um aspecto importante em relação aos jovens com AH/SD é que nem sempre questões emocionais (ansiedade, tristeza, baixa estima e irritabilidade) e dificuldades de interação (rejeição, conflitos e isolamento) são percebidas a partir da autoavaliação. Os relatos dos pais e professores também nem sempre são completamente confiáveis a esse respeito, e por isso não podem ser a única referência.

Em Bauru, desenvolvemos algumas ações para dar e aos estudantes com AH/SD. Os resultados têm sido excelentes. A iniciativa “Da identificação de estudantes com indicadores de AH/SD ao enriquecimento curricular” hoje atende mais de 300 estudantes residentes na cidade e região, encaminhados por famílias, escolas e profissionais de saúde.

O enriquecimento curricular, ligado aos cursos de extensão, é uma proposta interdisciplinar que proporciona experiências dentro e fora da sala de aula, fortalecendo a sociabilidade e reduzindo o isolamento.

Em um estudo recente, realizado ao longo de 2024 e publicado em janeiro de 2025 no periódico internacional em inglês “Social Skills in Gifted Students”, envolvemos 17 estudantes com idades entre 7 e 15 anos em atividades de enriquecimento. Elas incluíram estudo de teoria musical, robótica, aulas de inglês, prática de esportes, idas ao teatro, zoológico e ao Observatório Didático de Astronomia. O resultado foi uma redução de sintomas emocionais (de 2 para 0) e de problemas com colegas (de 3 para 1), segundo autoavaliação dos estudantes.

Além disso, para estimular a sociabilidade e conter o foco excessivo em interesses particulares, orientamos os pais a limitarem o tempo dos filhos sozinhos com tecnologias (tais como smartphones, tablets, computadores e jogos eletrônicos) e incentivar a participação em esportes e aulas de línguas, promovendo interação com pares.

Mais ações foram criadas. Em 2019, foi lançado o programa Escola de Talentos, vinculado ao Instituto Principia em São Paulo. Voltado a estudantes do ensino médio com desempenho destacado em olimpíadas escolares, 70% dos participantes se enquadram no perfil das AH/SD. O programa oferece atividades híbridas, reuniões online e encontros presenciais, com foco na colaboração e no desenvolvimento de projetos de pesquisa orientados por professores universitários.

Falta formação, sobra desigualdade

Lamentavelmente, muitos professores no país ainda desconhecem a avaliação multimodal e também que há leis garantindo que estudantes com AH/SD sejam atendidos pelos programas de educação especial.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPI, de 2011), reconhece as AH/SD como prioridade, assim como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996. No entanto, sua aplicação ainda é desigual entre estados e municípios, refletindo desequilíbrios na formação inicial e continuada de professores e na oferta de Atendimento Educacional Especializado (AEE).

Nossa principal recomendação tem sido investir tanto na formação inicial como na continuada de professores, a fim de transformar a realidade das pessoas com AH/SD. A literatura internacional enfatiza a necessidade de formações continuadas e integradas ao cotidiano escolar, ao invés de cursos pontuais, para garantir que educadores estejam aptos a identificar e atender essas crianças.

Também é necessário vigiar e corrigir desigualdades. Mesmo quando ações de enriquecimento são ofertadas, persistem vieses de gênero e raça: meninas e mulheres pretas e pardas, por exemplo, ficam em desvantagem na seleção para atividades complementares, reforçando o racismo estrutural e o machismo em nossa sociedade.

Em um levantamento recente, pesquisei 155 estudantes indicados pelos professores como potenciais casos de AH/SD no ensino fundamental de escolas estaduais de Bauru e Lençóis Paulista, no interior do estado de São Paulo. Desse total, 55 eram meninas, mas apenas duas se autodeclararam negras ou pardas (uma preta e uma parda), evidenciando não só subnotificação de talentos negros como também vieses raciais e de gênero na indicação; entre os indicados, houve apenas três meninos que se autodeclararam negros ou pardas (dois pretos e um pardo).

Iniciado no segundo semestre de 2024 e concluído em maio de 2025, o projeto avança agora para um novo levantamento com 640 estudantes das mesmas escolas, cuja correção de testes pode revelar ainda mais casos, especialmente entre estudantes negros e meninas. Esse processo, que utiliza múltiplos instrumentos padronizados e demanda tempo e cuidado, reforça a urgência de políticas escolares inclusivas, antirracistas e com perspectiva de gênero, capazes de reconhecer, valorizar e apoiar talentos diversos.

Para transformar a realidade desses jovens com AH/SD é fundamental aumentar o investimento governamental em pesquisas e em programas educacionais que contemplem a identificação, o atendimento desses estudantes e a formação de professores, bem como promover a sensibilização da sociedade. Sem essas medidas, continuaremos a desperdiçar talentos que poderiam contribuir de forma criativa e inovadora para os desafios contemporâneos.

Portanto, reconhecer, valorizar e atender adequadamente esses estudantes é mais um compromisso urgente e inadiável da educação brasileira.The Conversation

Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os os a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?