Astrônomos acham astro misterioso que lança raios X: “Mudará a física”
Objeto cósmico incomum emite pulsos de rádio e raios X em sincronia, revelando um fenômeno sem precedentes no centro da Via Láctea
atualizado
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Uma coincidência fez com que pesquisadores do Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia (ICRAR) descobrissem um objeto cósmico misterioso que parece desafiar os conceitos estabelecidos de como funciona a física no espaço.
O provocador objeto é o ASKAP J1832-0911. Ele se tornou foco de interesse científico global após ser registrado emitindo pulsos de rádio e de raios X simultaneamente. A combinação nunca tinha sido observada e a precisão temporal também é considerada inédita. O fenômeno ocorre por dois minutos a cada 44 minutos, sem falhas.
O astro está localizado a 15 mil anos-luz da Terra, em uma região próxima do centro da nossa galáxia, a Via Láctea. O estudo foi publicado na revista Nature nesta quarta–feira (28/5) e é assinado por mais de 50 pesquisadores.
A observação foi feita inicialmente pelo radiotelescópio australiano ASKAP, e confirmada mais tarde pelo observatório de raios X Chandra, da Nasa. Ambos os instrumentos, por coincidência, estavam voltados à mesma região do céu no momento da emissão dos pulsos.
“Descobrir que o ASKAP J1832-0911 estava emitindo raios X foi como encontrar uma agulha em um palheiro”, afirmou o pesquisador Ziteng Wang, da Universidade Curtin, na Austrália, líder do grupo responsável pelo estudo.
Objeto emite energia em dois extremos
Este é o primeiro registro comprovado de um chamado transiente de longo período (LPT) emitindo radiação tanto de baixa quanto de alta energia de forma sincronizada. Até agora, todos os LPTs detectados eram visíveis apenas em ondas de rádio.
A emissão de raios X representa um salto significativo no entendimento desses corpos. Como a radiação de raios X exige mecanismos energéticos mais extremos, o fenômeno sugere ser fruto de uma fonte altamente ativa, capaz de produzir ambos os tipos de sinal.
A origem de ASKAP J1832-0911 permanece indefinida. Hipóteses sugerem que seja uma estrela de nêutrons muito magnetizada — um magnetar — ou uma anã branca em estágio evolutivo avançado. Ainda assim, nenhuma das duas explicações cobre todos os aspectos observados.
“Este objeto é diferente de tudo que já vimos antes. Embora tenhamos algumas explicações, mesmo essas teorias não justificam completamente o que estamos observando. Esta descoberta pode indicar um novo tipo de física ou novos modelos de evolução estelar”, afirma Wang.
Nova física ou nova estrela?
Os LPTs são objetos espaciais definidos recentemente. Eles foram descobertos em 2022 e já foram feitos pelo menos dez registros. Nenhum deles, no entanto, tinha mostrado emissão de raios X até agora. A detecção levanta a possibilidade de que existam muitos outros objetos com comportamento semelhante, ainda invisíveis por falta de instrumentos observando-os.
Para a pesquisadora Nanda Rea, do Instituto de Ciências Espaciais da Catalunha, o achado “abre novos insights sobre sua natureza misteriosa”. “O que também foi realmente notável é que o estudo mostra um incrível esforço de trabalho em equipe, com contribuições de pesquisadores do mundo todo com conhecimentos diferentes e complementares”, completa ela.

Radiação X reduz hipóteses possíveis
A radiação X observada coincide com os pulsos de rádio no mesmo intervalo periódico, o que indica um processo comum de origem. Isso elimina muitas das hipóteses anteriores, que consideravam emissões isoladas de baixa energia.
A sincronização oferece um novo ponto de partida para modelos astrofísicos. Agora, as teorias precisam explicar como um único objeto pode gerar radiação coerente em duas faixas energéticas muito distintas e em um intervalo regular, quase intencional.
Os cientistas esperam que a identificação do ASKAP J1832-0911 leve a novas campanhas de busca, com foco em regiões similares da galáxia. A ideia é descobrir padrões repetidos ou variações que ajudem a definir o comportamento da fonte.
Oportunidade rara para a astrofísica
A descoberta também levanta questões fundamentais sobre a estabilidade temporal dos sinais. A repetição exata em intervalos de 44 minutos pode estar associada à rotação de um objeto altamente denso ou à interação gravitacional em sistema binário.
A expectativa é que futuras observações com instrumentos como o telescópio espacial James Webb ou o futuro SKA (Square Kilometre Array) possam oferecer detalhes que ainda faltam para desvendar completamente esse enigma cósmico.
O que é o telescópio espacial James Webb?
- O JWTS ou Webb é a ferramenta mais atualizada que temos em relação à observação do espaço.
- Ele é um telescópio espacial projetado pela Nasa em colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Espacial Canadense (CSA) com o intuito de substituir o Telescópio Espacial Hubble.
- O telescópio está localizado a mais de 1 milhão de quilômetros da órbita da Terra.
- Ele foi criado para ajudar a responder perguntas sobre a origem do universo, a existência de planetas habitáveis, a formação de galáxias e estrelas, a presença de buracos negros e a evolução de sistemas planetários, além de investigar em detalhes os exoplanetas.
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