Demissão de Juscelino pode destravar a reforma do governo Lula
Ou não, como diria Caetano Veloso
atualizado
Compartilhar notícia

Há 20 anos, estava pronta a reforma ministerial do governo Lula 1. Foi José Dirceu de Oliveira, então chefe da Casa Civil, quem a preparou sob a supervisão direta do próximo Lula. Haveria mais lugares para o MDB. A deputada Roseana Sarney, filha do ex-presidente José Sarney, aceitou ser ministra.
Então de repente, não mais do que de repente, Lula cancelou a reforma. Por quê? Porque Lula sempre teve dificuldade de demitir amigos. Três vezes deputado federal pelo PT de São Paulo, Luiz, Gushiken era o chefe da Secretaria de Comunicação da presidência. Lula quis removê-lo dali em 2004.
Chegou a acenar para Gushiken com outro posto no governo. Gushiken respondeu:
“Não. Estou bem aqui.”
E ficou onde estava.
Aconteceu o mesmo com Olívio Dutra (PT), ex-governador do Rio Grande Sul, que ocupava o cargo de ministro das Cidades. Ao desconfiar de que poderia ser substituído, Dutra procurou Lula e disse:
“Eu não saio”.
E não saiu.
Wellington Dias (PT), senador e ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, procurou Lula há meses para dizer que jamais pensasse em tirá-lo do governo. Ex-governador do Piauí, Dias argumentou que tudo fizera no seu estado a mando de Lula e que não seria justo perder o ministério.
Segue ministro. Como segue ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação Luciana Santos, a primeira prefeita comunista do Brasil, em Olinda. Luciana é também presidente nacional do PC do Brasil, partido que sempre apoiou Lula. O PC do B ameaça romper com Lula caso Luciana seja expelida do governo.
Uma vez que Juscelino Filho (União-Brasil), até ontem ministro das Comunicações, demitiu-se porque a Procuradoria-Geral da República o denunciou por envolvimento com desvio de dinheiro público por meio de emendas ao Orçamento da União, espera-se que a reforma ministerial do Lula 3 acabe sendo destravada.
Tem muita gente sem querer sair e muita gente querendo entrar – nenhuma novidade. O União-Brasil não abre mão da sua cota atual de ministros – três. Quer indicar o sucessor de Juscelino. O PSD de Gilberto Kassab, secretário do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem um ministério e pede mais um.
A reforma ministerial começou em janeiro último com a nomeação do marqueteiro baiano de Sidônio Palmeira para a Secretaria de Comunicação da presidência, no lugar do deputado Paulo Pimenta (PT-RS). A deputada Gleisi Hoffmann (PT) saiu da presidência nacional do PT para ser ministra das Relações Institucionais.
A pesquisadora e cientista social Nísia Trindade Lima foi demitida por Lula do Ministério da Saúde, abrindo assim lugar para Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro das Relações Institucionais. A ver se a reforma irá em frente.
Todas as colunas do Blog do Noblat
/blog-do-noblat/ricardo-noblat