A birra de Lula – e deveria ser a de todos – é com a extrema direita
Se bonitão, apaixonado e motivado, ele disputará a reeleição
atualizado
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Desde que este blog completou 22 anos no ar, acompanho a vida que me a em dois tempos: no de hoje, com tudo o que ocorre, me interessa e penso que pode interessar a vocês; e há 20 anos, com tudo o que ocorreu e que aqui ficou registrado.
Há vinte anos, por exemplo, Alexandre de Moraes enfrentou dificuldades no Senado para ter seu nome aprovado para uma vaga no Conselho Nacional de Justiça. Ele fazia parte do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, e o PT boicotou seu nome.
Ao fim, o nome foi aprovado, e o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, eleito pela primeira vez depois de ter sido derrotado por Collor em 1989 e Fernando Henrique Cardoso em 1994 e em 1988, evitou um aborrecimento com Alckmin.
Hoje, Moraes, promovido a ministro do Supremo Tribunal Federal pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), toca afinado com Lula quando o que está em jogo é a preservação da democracia, enquanto o vice de Lula é Alckmin, derrotado por Lula em 2006.
Exatamente há 20 anos, faltavam poucos dias para que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciasse o esquema de compra de votos no Congresso montado pelo PT para aprovar os projetos do governo – o mensalão. Foi um Deus que nos acuda.
Para salvar a sua, Lula acabou obrigado a entregar a cabeça do ministro José Dirceu, chefe da Casa Civil e ex-presidente do PT. Lula pensou até em renunciar ao cargo. A oposição apostou que ele sangraria e que seria fácil derrotá-lo no ano seguinte.
Quando todos o julgavam morto, Lula ressuscitou e se reelegeu. A sensação do primeiro turno daquela eleição foi Alckmin, que por pouco não ultraou Lula. No segundo turno, por uma série de erros que cometeu, Alckmin teve menos votos do que no primeiro.
Karl Marx, um dos pais do comunismo, disse a propósito do que aconteceu na França nos anos 1840 que a história se repete duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa. Não faz sentido aplicar ao pé da letra a frase de Marx à trajetória de Lula.
Porque nem a primeira eleição de Lula para presidente foi uma tragédia, nem a segunda foi uma farsa, tampouco a terceira. Lula ou a faixa presidencial para Dilma em 2010 como o presidente com a maior taxa de aprovação popular da história.
Se a direita empresarial, em 2002, pedia que apagasse a luz o último a deixar o país para não ver o desastre do governo Lula, em 2014, diante da possibilidade de Dilma disputar a reeleição, suplicou a Lula para que ele fosse candidato pela terceira vez.
Lula respeitou o direito de Dilma à reeleição. O resto é mais fácil de lembrar: o Congresso derrubou Dilma; Temer, o vice, assumiu o cargo; Lula foi preso em 2018 e não pôde ser candidato como pretendia; Bolsonaro se elegeu, e Lula voltou em 2022.
Agora, Lula insinua, embora não diga com clareza, que se estiver “bonitão” do jeito que imagina estar, “apaixonado” do jeito que está por sua mulher, Janja, e “motivado” do jeito como se sente, “a extrema direita” não voltará a governar o Brasil.
Entenda-se “bonitão” como pessoa com saúde. Quanto ao “motivado”, ele estará por duas razões muito simples: ninguém pela esquerda ameaça sua candidatura; e ninguém melhor do que ele para defender sua obra, seja para ganhar ou perder.
Perder para quem? Risque o nome de Bolsonaro do seu caderninho porque ele está inelegível até 2030 e em breve será condenado e preso pelo Supremo. Não haverá anistia. Perder para Tarcísio de Freitas? Falta combinar com Bolsonaro.
Bolsonaro dá sinais de que apoiará um dos filhos, ou a sua mulher. Nem tão cedo apoiaria Tarcísio ou qualquer outro nome para não perder a condição de líder da extrema direita e da dita direita civilizada. De resto, o problema de Lula é com a extrema direita.
Da direita, encabeçada à época por Fernando Henrique que a ela se juntou para se eleger, Lula recebeu a faixa presidencial em janeiro de 2003. À direita a quem ele se juntou para governar três vezes, Lula devolveria a faixa sem derramar lágrimas em público.
Só não gostaria de devolvê-la a quem não preza a democracia e tentou golpeá-la.